Proposta que muda remuneração do FGTS pode ter votação adiada

O deputado Carlos Marun, do PMDB do Mato Grosso do Sul,vai tentar adiar a votação  nesta semana, do projeto que altera a remuneração do FGTS. O texto (PL 1358/15) que deve ir à votação é de autoria do deputado Paulo Pereira da Silva do Solidariedade de São Paulo, que prevê que os depósitos no fundo feitos a partir do ano que vem sejam corrigidos pelo mesmo cálculo aplicado à poupança. Todas as entidades convidadas para a mesa-redonda promovida pela Comissão de Desenvolvimento Urbano, entre entidades sindicais, movimentos sociais, associações de construtoras, mostraram-se contrárias ao projeto  que está na pauta de votações do plenário nesta semana.

O representante da Abrainc, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, Rodrigo Osmo, afirma que o projeto é insustentável e traz insegurança jurídica “Hoje o FGTS tem 135 milhões de contas ativas. Dessas 135 milhões de contas ativas, menos de 40 milhões recebem contribuições Ou seja, mais de 90 milhões não recebem contribuições  são contas de empregos assados de seus cotistas. Nenhuma dessas 90 milhões de contas seria beneficiada pelo novo projeto de lei. É de se esperar que isso provoque uma avalanche de ações na Justiça e isso é um outro prejuízo em potencial para o FGTS, com valor incalculável por enquanto.”Atualmente, há cerca de 100 mil ações relacionadas ao FGTS na Justiça. A correção do fundo de garantia é feita pela TR mais juros de 3% ao ano. A correção da poupança é a TR mais 0,5% ao mês, isso quando a taxa Selic é superior a 8,5%. Quando inferior  a correção é pela TR mais 70% da taxa Selic. Ao fixar a remuneração do FGTS à poupança o projeto prejudica os cotistas de menor renda, o que inviabiliza a participação deles no programa Minha Casa Minha Vida. Hoje, uma família com renda familiar de 2.000 reais precisa de uma poupança 14.700 reais para financiar uma casa de 120 mil reais pelo programa. Com o aumento da taxa de juros da remuneração do FGTS, os juros do Minha Casa Minha Vida precisariam ser maiores do que os da poupança e a mesma família com renda mensal de 2 mil reais precisaria ter 51 mil reais para ser aceito no programa.

Isso traria consequências ruins a um programa que gera 3 milhões de empregos, sendo 400 mil diretos ,segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção  José Carlos Martins. O secretário executivo do Conselho Curador do FGTS, Quênio Cerqueira de França, afirma que é perigosa a mudança da concepção original do FGTS  “Ele mudaria totalmente o FGTS. Faria com que as taxas de juros tenham que ser aumentadas e é esse prejuízo que a gente quer evitar o aumento da taxa de juros para famílias de baixa renda, vai na contramão de todo o esforço que tem sido feito, sobretudo no Minha Casa Minha Vida  para rever crédito de baixo custo para essas grandes necessidades do Brasil.”O conselheiro da CUT no FGTS, Cláudio da Silva Gomes,revela preocupação “Eu acho que isso deveria passar por um processo de discussão mais bem elaborado pra que isso não venha impossibilitar os trabalhadores de ter acesso ao seu imóvel, que é uma das poucas fontes de recursos disponível para essa finalidade.” O projeto do deputado Paulo ereira da Silva tramita apensado a outros 19 projetos.

A proposta mais antiga (PL 4566/08) determina que a remuneração do FGTS não seja inferior à inflação medida pelo INPC. O deputado Carlos Marun lidera a campanha para adiar a votação da proposta e aprofundar o debate. Ele é autor de um projeto (PL 2459/15) que distribui entre os cotistas de forma proporcional, parte do lucro do FGTS. O fundo tem 410 bilhões de reais de ativos totais. O patrimônio líquido é de 77,5 bilhões de reais  pouco menos de 20% dos ativos totais. No ano passado, o fundo investiu R$ 6,7 bilhões para saneamento básico, 3,1 bilhões de reais em energia, rodovia, hidrovia, porto e saneamento e 43,1 bilhões de reais do fundo foram destinados a financiamentos habitacionais. Segundo o Ministério do Trabalho  foram beneficiadas 480 mil famílias por meio do programa Minha Casa Minha Vida.

Fonte: Agência Câmara