Os trabalhadores associados aos sindicatos de suas categorias ganham, em média, 33,5% a mais do que os não sindicalizados. Segundo André Gambier Campos, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as novas regras trabalhistas devem aprofundar ainda mais a diferença salarial entre esses dois segmentos.
De acordo com um estudo feito por Campos e recém-publicado, os trabalhadores não sindicalizados ganhavam, em média, R$ 1,675,68 em setembro de 2015. Já os associados a sindicatos ganhavam R$ 2,237,86. O pesquisador usou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O contraste também pode ser observado nas remunerações indiretas. Conforme o levantamento, 36% dos sindicalizados recebem auxílio-saúde, ante 20,3% dos não sindicalizados. Além disso, 63,9% dos trabalhadores sindicalizados têm acesso ao auxílio-alimentação, ante 49,3% dos não sindicalizados. No caso do auxílio-transporte, os índices são de 54,4% e 49,1%.
Segundo Campos, as diferenças não são esperadas. No Brasil, historicamente, todos os trabalhadores devem contribuir para a sua organização sindical, pagando taxas obrigatórias. E todos são contemplados pelos acordos coletivos.
Com a reforma trabalhista – que entra em vigor em novembro –, o imposto sindical, que equivale ao valor de um dia de trabalho, passa a ser facultativo. “Essa desigualdade interna no mercado tende a se aprofundar”, diz o pesquisador. Para ele, essa diferença é comum em países com liberdade sindical.
Ainda não são claros os motivos que levam a uma diferença nas remunerações a partir da filiação aos sindicatos. A hipótese com a qual o Ipea trabalha é que, em países como o Brasil, quem se sindicaliza são os trabalhadores mais qualificados e engajados socialmente. Por um caminho ou por outro, o roteiro traçado por esses profissionais tem reflexo sobre suas remunerações.
“A hipótese clássica é que quem se sindicaliza em países como o Brasil não são os trabalhadores na base da pirâmide. Geralmente, são os trabalhadores mais qualificados, mais engajados a causas sociais ou trabalhistas”, sugere Campos. “Por uma série de fatores, a trajetória dessas pessoas no mercado de trabalho afeta os seus salários.”